sábado, 29 de agosto de 2009

Dos restos

O silêncio é melhor do que a indiferença das palavras. A distância é mais confortante do que a insignificância da presença. A solidão é mais cálida do que companhias despedaçadas.

Da premissa de que é melhor não ter nada do que ficar com restos, eu me resguardo em um só lugar, em um que eu seja só dele.






domingo, 16 de agosto de 2009

"Toujours"

Sexta-feira, quando me deparei com aquelas plumas ou pétalas de cabeça para baixo na minha frente, e fiquei com dor no pescoço por causa dos malabarismos do artista, fui seduzida pela ponta do dedo em uma madeira... "Toujours" me comovia e eu pensava em "todo" e em "dia" e estava embriagada pela fantasia do momento em que a tinta estava vermelha na superfície de uma derme quente e úmida antes de chegar na cortiça rachada... O "dia" estava me chamando e "sempre" eu ia sem resistência rumo ao pleno engodo, até que ele chega, quase imperceptível e ao lado da minha tête andarilha diz musicalmente "Sempre!" e naquele momento puxa com gentileza o freio de mão da minha viagem elétrica e sai calmamente do lugar aonde me deixou cair no chão da sala dos quadros surrealistas. Isolada e silenciosamente fico satisfeita por lembrar dos momentos quando a ponta de um dedo é muita mais sábia do que as pontas dos nossos axônios...

sábado, 8 de agosto de 2009

Longo

Ao longo do dia que passa, quando todas as músicas que eu já ouvi para me distrair estão no limite do bom-senso, eu quase posso acreditar que meus dedos são os mais amados... E , eu poderia estar interpretando uma cena mais bonita do que essa. O meu, o teu e o nosso silêncio, aquelas luzes artificiais, aquelas...


O resguardo daquilo que caiu pelo caminho está no vento. E ele volta sempre a incomodar a menina com a saia curta de pregas e eu com meus pensamentos vagos e presos.






Fiona Apple - Not About Love

Pra não dizerem que eu não gosto de nenhuma música dela... dessa eu gosto bastante, incluindo o clipe.

Do patético

"Foi aquele momento perfeito, lembra??? Eu nunca vou me esquecer, estávamos na praia, e as nossas barracas estavam inundadas, então fomos atrás de algum posto telefônico, mas estávamos muito chapados e não parávamos de rir! E todo mundo ria junto com a gente da situação, e tu me olhou com aqueles olhos típicos de espanto, e eu fiquei toda arrepiada, uma das primeiras vezes que me arrepiei contigo... E a lua era única, o cheiro de tudo era perfeito e quando finalmente encontramos um posto, estava fechado, resolvemos dormir por lá mesmo e passamos a noite inteira falando dos pormenores da vida e foi aí que nos apaixonamos um pelo outro. Aquela noite nunca mais me saiu da cabeça, eu me lembro de tudo que aconteceu, quase todos os dias... tu não te lembra??!"












"Hã, oi? Bah, pior que não lembro não..."







quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Pool

"Não houve qualquer recado telefônico, mas o mordomo ficou sem dormir, até às quatro horas, à espera de algum chamado - até muito depois da hora em que qualquer pessoa poderia transmitil-o, se alguém telefonasse. Tenho a impressão de que nem mesmo o próprio Gatsby acreditava que alguém o fizesse, e talvez isso já não lhe importasse. Se isto era verdade, ele deve ter sentido que perdera aquele seu cálido e antigo mundo, pago um preço demasiado alto por haver vivido um único sonho. Deve ter fitado, através das folhas assustadoras, um céu desconhecido - e sentido um arrepio, ao verificar quão grotesca é uma rosa, e de que maneira crua caía a luz do sol sobre a relva que acabara de brotar. Um mundo novo, material, mas, não obstante, irreal, onde pobres fantasmas, a respirar sonhos, como se estes fossem o próprio ar, pairavam, fortuitamente, em torno... como aquela figura fantástica, cinéria, que deslizava em sua direção por entre as árvores amorfas."

O Grande Gatsby - F. Scott Fitzgerald


sexta-feira, 24 de julho de 2009

Nas palavras de Olívia

"Acreditar nas sandices ou nas acolhedoras palavras de uma parede de trem, ou de uma voz sábia de anos mais antigos... O que me faz admirar os homens, ou que eles julgam ser de humanos, é a ilusão do concreto. Acontece que nada é eloquente o suficiente para convencer que é eterno. Crueldades que os corações e os cérebros de piscina ricos em proteínas cometem com aquilo a quem eles deviam gratidão... ou não. Heis que tudo se prostra com resignação em um limbo, como flores amarelas em um prédio cinza abandonado na cidade. Todos reluzentes de esperanças. Espiões de pequenos gestos inocentes, qualquer ato que acuse um simples cheiro de ressurreição. As sombras que o Sol forma no plano, imagens nítidas e quase tangíveis. Uma 'eternidade' disfarçada de meras lembranças."


O que há de bom mesmo, em ver algo tão lindo se tornar patético...